Estava trabalhando quando fui convocado pela presenta de uma certa Maria. Uma mulher já velha, mas, com peculiares caracteristicas. Ao vê-la com seu arranjo de flores e penas na cabeça, com sua saia rodada e cumprida, com seu sorriso engraçado e cheio de uma estranha alegria tive uma perene inveja. Ocorreu-me de que a loucura e isso que pateticamente chamamos de normalidade, tem produzido mais adoecimentos e ranger de dentes que a criativa vestimenta daquela senhora. Ao vê-la, depois de terme detido sobre esses que autoritariamente chamamos de anormais ao longo de minhas atividades, reconheci uma "Estamira" revivida com uma peculiar capacidade de se fazer nesse mundo repleto de estranhamentos. Maria está em minha mira, e embora ao escuta-la tenha emergido um discurso diferente desse que professámos, ela fala uma lingua particular que também no diz respeito. Essa senhora com suas analogias exotéricas, com suas imagens místicas, com suas visões de seres angêlicos com esses traços que convocamos a afirmar o campo da loucura, parece-me pertencer ao mundo que por ora ocupamos. Ela é nossa vizinha embora seu endereço seja mais poético, estético e não impune ou desprovido de sofrimento. Não desejo com esse texto produzir uma exaltação ou mesmo um elogio à loucura. Antes de mim, outros já realizaram esse feito. Também não busco realizar com minhas palavras uma crítica à nossa temporalidade enlouquecida. Para produzir essas abordagens me falta competência e inspiração.
O que desejo fazer ver é que temos nos aniquilado mutuamente. Nosso tempo inscrito na lógica de uma razão indolente concebe a possibilidade do saber como uma instância de guerra. Nossas categorias de análise, quase sempre, estão contaminadas por uma certa abominação ao fato de que não somos plenamente senhores de nossa própria razão. Essa morada que passamos a ocupar com o advento do racionalismo renega a noção de que o saber desconhece algo, que não se sabe tudo e nem da mesma forma. Logo as verdades, se há alguma, são sempre pessoais e parciais como o tempo nosso de cada dia que será tragado pela verdade absoluta de todos nós. A instáncia da finitude vai se impor absoluta com seus ares de mistério que só pessoalidades como Maria podem dar um ar de graça ao flagelo que também somos. Afinal, não somos dão magníficos e belos como supomos logo o outro não é uma monstruosidade remetida ao gueto do abandono ou ao higienismo da indústria farmacêutica tão bem ancorada no saber médico em seus dispositivos de tratamentos. Os aparatos manicomiais permanecem em nós como uma herança mal-dita de uma razão indolente. Quem é mais perigoso à nossa existencia: a razão ou sua contra-parte.
O que desejo fazer ver é que temos nos aniquilado mutuamente. Nosso tempo inscrito na lógica de uma razão indolente concebe a possibilidade do saber como uma instância de guerra. Nossas categorias de análise, quase sempre, estão contaminadas por uma certa abominação ao fato de que não somos plenamente senhores de nossa própria razão. Essa morada que passamos a ocupar com o advento do racionalismo renega a noção de que o saber desconhece algo, que não se sabe tudo e nem da mesma forma. Logo as verdades, se há alguma, são sempre pessoais e parciais como o tempo nosso de cada dia que será tragado pela verdade absoluta de todos nós. A instáncia da finitude vai se impor absoluta com seus ares de mistério que só pessoalidades como Maria podem dar um ar de graça ao flagelo que também somos. Afinal, não somos dão magníficos e belos como supomos logo o outro não é uma monstruosidade remetida ao gueto do abandono ou ao higienismo da indústria farmacêutica tão bem ancorada no saber médico em seus dispositivos de tratamentos. Os aparatos manicomiais permanecem em nós como uma herança mal-dita de uma razão indolente. Quem é mais perigoso à nossa existencia: a razão ou sua contra-parte.


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