Meu navio é grande:
Comporta todas as saudades da África.
Está ancorado às margens das costas de meu país;
Mas, o tempo de partida já se anuncia no horizonte.
O sol já brilha em minha face pálida;
Minha pele já resplandece os rumores das ondas;
Os ventos de Yansã já sobram;
Minha ancora deve ser erguida;
As correntes que lhe dão peso devem ser rompidas;
É tempo de navegar, de contar estrelas, traçar rotas e sonhar.
Os ventos de Yansã já sobram – Eparé minha mãe;
O porto não é seguro para um navegante.
É preciso abrir as velas, acolher os ventos e segui-los;
Novos ventos conduzindo rumos novos.
Não sei para onde ir nestes mares desconhecidos;
Meu mar também é feito de fé;
Suas águas são límpidas e tudo nele é encanto;
Nos porões de meu navio encontro minha sorte e conto com a companhia dos que vieram.
Estamos, agora, passeando sobre os efeitos de nossa diáspora;
O Novo Mundo envelheceu e reinventamos seus ditames com nossas performances;
Os gritos de dor e dó ainda nos perseguem, mas, sobrevivemos.
Que os grilhões possam ser quebrados;
As escravidões preenchem o mundo de tiranias imprudentes.





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