domingo, 9 de maio de 2010

Navio


Meu navio é grande:

Comporta todas as saudades da África.

Está ancorado às margens das costas de meu país;

Mas, o tempo de partida já se anuncia no horizonte.

O sol já brilha em minha face pálida;

Minha pele já resplandece os rumores das ondas;

Os ventos de Yansã já sobram;

Minha ancora deve ser erguida;

As correntes que lhe dão peso devem ser rompidas;

É tempo de navegar, de contar estrelas, traçar rotas e sonhar.

Os ventos de Yansã já sobram – Eparé minha mãe;

O porto não é seguro para um navegante.

É preciso abrir as velas, acolher os ventos e segui-los;

Novos ventos conduzindo rumos novos.    

Não sei para onde ir nestes mares desconhecidos;

Meu mar também é feito de fé;

Suas águas são límpidas e tudo nele é encanto;

Nos porões de meu navio encontro minha sorte e conto com a companhia dos que vieram.

Estamos, agora, passeando sobre os efeitos de nossa diáspora;

O Novo Mundo envelheceu e reinventamos seus ditames com nossas performances;

Os gritos de dor e dó ainda nos perseguem, mas, sobrevivemos.

Que os grilhões possam ser quebrados;

As escravidões preenchem o mundo de tiranias imprudentes.  

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