Próximo às casas, o poço com peixes.
Pés de goiaba, cerca de arame.
Um poço à semelhança de um Atlântico.
Criança é assim, olhos pequenos que vêem grande.
Nosso Atlântico era ali no fundo do quintal.
Entre as montanhas de Minas.
Água fresca e viva para matar a sede e pescar.
Pescávamos piabas que guardávamos em frascos de vidro.
Tínhamos muita sede e um mundo como mistério.
O quintal era um palco para nossas brincadeiras.
Uma selva a explorar,
Um mar para pescar com peneiras.
Gestos proibitivos, acenos inquisidores.
Éramos olhados de cima e em baixo.
Autoridade dos mais velhos, ordens familiares, pai e mãe.
Foi o poço que ensinou que era preciso escrever.
Não posso deixar este ofício.
Escrever, pescando palavras em forma de piabas.
Piabas que pegávamos com peneiras.
Palavras que capturo com minhas canetas e guardo em papel de maça.
Saudade do menino a muito velho.
Lembro-me dos peixes e das peneiras.
Das goiabas roubadas e da descoberta da paz.
Das palavras escritas em papel de maça.
De Dona Abigail, Zé de Lica.
Dos festejos de fé, da banda na praça.
Nova Era não sai de mim.
Território de minha saudade que faz mapa em meu ser.
Estabelece fronteira para meus passos.
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