quarta-feira, 28 de abril de 2010

Setãozinhos

Nos tempos em que vivia no sertão na casa de meu pai e de minha mãe

Cuidando das ordenanças de seus vastos territórios

Fronteiras cumpridas a perder de vista;

Da fonte de água com seus caminhos a desaguar no rio

Rio Piracicaba que guarda nossa infância e cultiva a vitalidade de nossa mocidade;

Da lagoa de São José à sede de religiosidade ao santo tristonho de nós todos;

Ali, assim, entre São Gonçalo do Rio Abaixo e São José da Lagoa

Entre a cidade velha com seu mosteiro, cemitérios e convento

Entre o morro do padre e os outros espaços profanos de nossa cidadezinha tudo era novo e, sendo assim, velho como o outono;

Nesse tempo de venturas habitei-me de estranha saudade.

Entre as montanhas e as grutas;

Em meio às patas de onça pintada;

Aos sons das aves melódicas o menino envelheceu com o raiar do dia;

Trazia em sua cabeça ornamento indígena feito de penas de galinha;

Menino sonhava ser índio e viver no mato;

Menino da roça; da troca, da pressa, da praça, da prova, da prosa.

Passava tempos proseando sem obediência a metro nem a rima;

O galo anunciou sua solenidade precoce;

Menino educadinho não é sinhá Nastácia;

Baozinho feito o capeta fugindo da cruz comadre Rosa;

Inteligente qui nem burro empacado;

Na roça há tantas prosas de elogio que deixa a gente a duvidar do dito;

Cruz credo, Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, vige santa, Menino Jesus me abana

Na roça a tantas convocações misteriosas que uma só não basta só serve em procissão.

Em tempo de vida adulta, o menino um pouco mais crescido nos grilhões da existência, busca suas Genesis;

Não está nos céus, nem nas terras, nem nas fronteiras, nas heranças que não há.

As Genesis sacras desse menino estão nas pronunciações das palavras que foram ditas e voltam às tardezinhas.

Todos os dias, ele as encontram:

Nos meios dos caminhos às vezes agonizando, outras sorrindo, mas sempre falando.

Eta palavras difíceis essas que falam feito pobre na chuva;

O menino-homem as colhe com encanto e cuidado como quem vai ao pomar.

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