Nos tempos em que vivia no sertão na casa de meu pai e de minha mãe
Cuidando das ordenanças de seus vastos territórios
Fronteiras cumpridas a perder de vista;
Da fonte de água com seus caminhos a desaguar no rio
Rio Piracicaba que guarda nossa infância e cultiva a vitalidade de nossa mocidade;
Da lagoa de São José à sede de religiosidade ao santo tristonho de nós todos;
Ali, assim, entre São Gonçalo do Rio Abaixo e São José da Lagoa
Entre a cidade velha com seu mosteiro, cemitérios e convento
Entre o morro do padre e os outros espaços profanos de nossa cidadezinha tudo era novo e, sendo assim, velho como o outono;
Nesse tempo de venturas habitei-me de estranha saudade.
Entre as montanhas e as grutas;
Em meio às patas de onça pintada;
Aos sons das aves melódicas o menino envelheceu com o raiar do dia;
Trazia em sua cabeça ornamento indígena feito de penas de galinha;
Menino sonhava ser índio e viver no mato;
Menino da roça; da troca, da pressa, da praça, da prova, da prosa.
Passava tempos proseando sem obediência a metro nem a rima;
O galo anunciou sua solenidade precoce;
Menino educadinho não é sinhá Nastácia;
Baozinho feito o capeta fugindo da cruz comadre Rosa;
Inteligente qui nem burro empacado;
Na roça há tantas prosas de elogio que deixa a gente a duvidar do dito;
Cruz credo, Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, vige santa, Menino Jesus me abana
Na roça a tantas convocações misteriosas que uma só não basta só serve em procissão.
Em tempo de vida adulta, o menino um pouco mais crescido nos grilhões da existência, busca suas Genesis;
Não está nos céus, nem nas terras, nem nas fronteiras, nas heranças que não há.
As Genesis sacras desse menino estão nas pronunciações das palavras que foram ditas e voltam às tardezinhas.
Todos os dias, ele as encontram:
Nos meios dos caminhos às vezes agonizando, outras sorrindo, mas sempre falando.
Eta palavras difíceis essas que falam feito pobre na chuva;
O menino-homem as colhe com encanto e cuidado como quem vai ao pomar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário