terça-feira, 8 de junho de 2010

Dostoievski


Estou lendo um livro escrito por Dostoievski, esse autor russo sempre chamou minha atenção, embora, nunca antes de agora, eu tenha tido coragem de ler um texto dele. Sempre achei Dostoievski, um homem estranho com suas longas barbas, um homem para além da condição banal de ser humano e entre a condição sublime de ser um escritor. Acho que é exatamente isso que me vez temer seu texto por tanto tempo. Eu era apenas inocente, desconhecia a verdade: de que somos estranhos. Paralelamente, simplesmente, não tinha idéia de que poucos de nós seremos sublimes o suficiente para escrever como ele. Talvez o frio da Rússia, essa terra longínqua e antiga, marcada por episódios de ranger de dentes, repleta de calor das inquietações, talvez esse lugar e sua historicidade, possa ser responsável por nos presentear com um Dostoievski. Isso não significa dizer, que os trópicos, não tenham textos poderosos como desse russo. O Brasil, produziu Guimarães Rosa, que soube fazer universal a linguagem rústica do sertanejo. O livro que estou lendo tem o instigante título: Memórias da Casa dos Mortos. Esse livro possui uma dimensão auto biográfica, porque revela a dura experiência do autor, quando de sua condenação ao trabalho forçado na Sibéria. Dostoievski, era um subversivo, seu envolvimento com os comunistas contra a monarquia russa, produziu uma condenação à morte. Contudo, no dia de seu fuzilamento, no momento exato, sua pena foi convertida em trabalho forçado. Que sorte o mundo deu! Há momentos que como cegos, a exemplo do que aponta Saramago, simplesmente não vimos o que se passa ao nosso redor. Tivemos sorte de poder ver Dostoievski viver um pouco mais. Isso nos permite consultar seu texto para suportar “os sentimentos do mundo” como aponta Drummond. Se nossas mãos são frágeis, Dostoievski nos revela que elas podem reescrever o mundo. Nesse livro, que me debruço a ler, o autor, converte um acontecimento trágico em um fenômeno estético. O escritor transforma sua dor, seu cárcere, seu texto proibido, sua clandestinidade, sua rebeldia e, ao escrever, ao usar suas mãos, produz uma obra de arte. Ele faz do pessoal algo universal, belo e a tragédia de sua existência, nos revela. Isso, para mim, se chama literatura. Algo relativo à escritura de nós e de nossa existência. Mas, somente existir não favorece o texto, a literatura é, sem dúvida, um trabalho intelectual, mas, há uma dimensão de labor como a de um agricultor. Quando morei na roça, plantei algumas coisas, que me exigiram muito trabalho e, conferiu em eu, a possibilidade de uma escritura. Lamento, muitíssimo, o fato de destratarmos nossos escritores, entretanto, até eles, não estão imunes às contradições da existência. Considero, essa constatação muito obvia, todavia, penso que essa equivocidade, permite surgir a literatura e seu caráter universal e eterno. Se há algo a invejar nos escritores é a imortalidade que dispensa o corpo para fazer eterno a obra. Assim, Dostoievski, vive até hoje e para sempre. Seus algozes, se é que há vitimas, estão tão sepultados que não lembramos seus nomes. Isso também é literatura, uma espécie de vingança, que faz o tempo gritar determinados nomes e esquecer outros. Vamos à igreja, louvar nossos santos, que a blasfêmia seja nossa marca, vamos cultuar Dostoievski(s), no plural, porque temos muitas entidades como ele. Que assim seja, Deus nos agradece, de outro modo, ele não seria concebido.                                            

Nenhum comentário:

Postar um comentário