A liberdade é aquilo que não podemos abrir mão ao mesmo tempo, é algo de difícil definição. Nada sabemos sobre a liberdade se não a reconhecermos como aquilo que nos enlaça ao social, às relações como o outro nos inscrevendo como sujeitos políticos. A liberdade sempre nos chamou a atenção ganhando horizontes éticos e filosóficos e conquistando nossas mais apaixonadas inspirações de luta por um mundo melhor.
Todavia definir a liberdade é uma tarefa difícil para qualquer um, pois todo exercício nessa direção, inevitavelmente estabelece um confronto. A liberdade de um pode ser perfeitamente a opressão de outro. O simples fato de estarmos condenados à liberdade como aponta o esplêndido Sartre revela que esse ideário constitui-se em uma fundamental condição existencial.
A liberdade é algo relativo aos modos como existimos nesse vasto mundo com suas incomensuráveis incongruências, injustiças e maledicências. Nossa condição humana nos remete a pensar sobre a liberdade e a criar parâmetros jurídicos para regular suas expressões em nosso tecido social. Ao longo de nossa história temos inúmeros monumentos para materializar aquilo que não possui uma única forma.
Orgulhamos-nos desses edifícios que se erguem em nossa cidade, em nossos países para confirmar, nada mais que isso, a importância da liberdade como algo ontológico ao humano. Sendo assim, esse dado ontológico é igualmente relacionado ao fato de que ao sermos diferentes, a liberdade é algo relativo ao desejo, à vontade, ao engajamento, à luta contra a opressão.
Como aponta Bauman, nosso devir na contemporaneidade, remete-se irrevogavelmente à luta contra a opressão e não há dúvida que estamos qualificados a nomeá-la. Somos nós os operários mal remunerados, somos nós que recebemos salários rigorosamente baixos, somos nós que nos encontramos desempregados, com acessos limitados ao lazer, à educação, à saúde, somos nós que nos encontramos mais vulneráveis em todos os aspectos. Curiosamente, somos nós que pagamos altos impostos no Brasil.
Portanto, todo movimento de luta pela liberdade deve ser bem vindo e quando o Estado e a sociedade agem contra essas manifestações de forma truculenta e violenta, respondem adequadamente à peculiar aspiração de manter as opressões como mecanismo eficaz de sustentar a ordem disciplinar de nossas sociedades. Como aponta Foucault, nossas sociedades são necessariamente disciplinares e produziram instrumentais diversificados de contenção, ordenação, massificação, dominação, alienação e formatação de nossos pensamentos, comportamento, ações, corpos, sonhos e projetos.
Ordenamento provocativo e sutil que enlaçado à lógica liberal e consumista desenvolve uma atmosfera alienante que nos remete a uma vida liquida moderna como aponta Bauman, ocorrência que fortifica os quadros de miserabilidade e opressão. Ao observarmos o mundo contemporâneo em suas múltiplas manifestações caóticas podemos colocar à cena de nossas demandas sociais questões ecológicas, de gênero, sexuais, operarias, agrícolas, entre outras.
Todas essas questões nos conduzem a nos agrupar em grupos específicos que compartilham suas particularidades e, em grupos organizados, materializam movimentos de enfrentamento à peculiar opressão que recai sobre sua condição existencial e política. Os Movimentos Feministas agrupam um conjunto de mulheres que, sabedoras de sua peculiar opressão, numa sociedade falocêntrica e machista, se agrupam para lutar contra a subjugação.
A grosso modo, esse é o mecanismo que consagramos para a produção dos movimentos sociais e a partir de uma amplo processo discursivo e de convencimento, agregamos às fileiras de luta outras pessoas e assim, damos relevância à demanda que se coloca ao exame das coletividades. Esse processo passa invariavelmente pela “produção de uma consciência critica” endereçada politicamente a mudar uma dada realidade.
Entretanto, essa forma de organização é semelhante, mantendo as devidas especificidades, ao modo como tornamos cientifica e metódica a produção do trabalho a partir das concepções liberais e capitalistas de Ford. Esse modelo cientifico de pensar e realizar o trabalho, transformou nossas sociedades, impulsionou o capitalismo, redefiniu o lugar do operário, fortaleceu a burguesia e contribuiu para a lógica consumida; portando, essa elaboração contemporânea é um modelo fundamental que informa como podemos viver e compartilhar as coisas no mundo em que nos encontramos.
Remeto-me à organização cientifica do trabalho porque se concebemos a liberdade como algo ontológico à nossa condição humana, nossa capacidade de trabalho é inerente à constatação de que somos os nomeadores do mundo, e a liberdade é uma enunciação fundamental para vivermos, para nos pensarmos, para compreendermos o mundo e nosso lugar no mundo. Sua materialidade se confunde com nossa própria materialidade que se constitui no mundo junto aos outros.
Nesse sentido, devemos nos deslocar do modelo hegemônico de organização dos movimentos sociais. Penso que devemos reinventar os processos de emancipação como propõe Boaventura. A questão da emancipação torna-se um artefato de luta e sua definição é emblemática. Buscar a emancipação pressupõe lutar contra as opressões. Mas, não podemos realizar essa luta com as armas já colocadas pelo sistema.
Sendo assim, penso que é oportuno produzir anti-movimentos e, para tanto, seguir as pegadas e os exemplos de Steve Bico e Nelson Mandela. Nessa direção, me reservo a liberdade de fazer uma crítica à luta pela liberdade que tanto me interessa. Essa luta só será bem sucedida se, para além dos slogan das passeatas, pararmos para aprofundar essas enunciações e produzirmos mais que ativismo, conhecimentos e tecnologias libertadoras.
Entretanto, temos que colocar com mais firmeza a questão racial brasileira com o mesmo teor de importância das demais. Alias, historicamente, o Movimento Negro a exemplo do Movimento Feminista são as fontes das primeiras manifestações que invadiram nossas ruas e mentalidades reivindicadoras. Os afro-descendentes no Brasil são rigorosamente os mais vulneráveis.
"Jesus is the new black
ResponderExcluirOWWW!"