quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Pé


As maças são rosadas
Nas terras de minha mãe havia um pé de maçãs.
Ele nunca dava frutos e esperávamos, nos tempos da meninice, as maçãs que não nasciam.
As maçãs são saborosas como os tempos em que esperávamos pelo seu fruto nunca experimentado.
Papai dizia sempre, menino maçã e fruto perigoso.
Sentenciava um sermão como padre em missa de domingo.
Ficávamos ali imaginando pecados, comungando medos.
Nesse tempo em que a vida era acalentada pela espera esse pé era boa brincadeira.
Menino tem dessas coisas de ficar tempo parado à espera do impossível.
Num dia comum, papai cortou o pé.
Ai que tristeza, que dor perder o pé de maçãs que nunca terá fruto.
Dize para nós, em meio aos lamentos, menino esse pé tem mais serventia para o fogo. 
Ficamos impávidos, parados sem entender, adulto é bicho estranho;
queima e corta pés de espera. 
Assim é que crescemos buscando outros pés para traçar nossos caminhos.

Um comentário:

  1. "Ele está lá. Só.
    Só que sua solidão não é qualquer solidão...
    Sua solidão não é triste nem saudosa.
    Sua solidão é bela..."

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